TRIBUTO A ANDY IRONS

Andy Irons não cabia na onda. Tanto que rasgava uma atrás da outra em aéreos que viraram referência mundial. Não cabia também dentro dele mesmo - a cada conquista orgulhava-se de mergulhar em festas e bebidas. Muito menos cabia no papel de coadjuvante relegado aos súditos de Kelly Slater. Encarou o mito sem medo e foi o único a incomodá-lo de fato. Gigante, perdeu sua batalha final de forma surpreendente e acima de tudo irônica, vítima de uma doença transmitida por um frágil mosquito. Aos 32 anos, o havaiano sai de cena, mas deixa um legado histórico.

Nascido em Kauai, no Havaí, no dia 24 de julho de 1978, Irons não conseguiu voltar para casa neste início de novembro de 2010. De Portugal, onde disputou uma etapa do Circuito Mundial, voou para Porto Rico, mas já não estava se sentindo bem. Incapaz de disputar suas baterias, decidiu se recolher no Havaí. No meio do caminho, a escala em Dallas. Hospedado num hotel, com dengue hemorrágica, foi encontrado morto por um funcionário pouco depois das 10h de terça-feira.

O drama de Andy ganha contornos ainda mais tristes pelo estado da sua esposa, Lyndie. A modelo californiana está grávida de oito meses, esperando para dezembro o filho do casal. Os dois se conheceram em 2003, quando o surfista estava no auge, prestes a conquistar o segundo dos seus três títulos mundiais consecutivos. Mas a relação com as pranchas começou bem antes disso.

O garoto havaiano começou a surfar aos 8 anos e influenciou rapidamente o irmão mais novo, Bruce Irons, que também competiu no circuito profissional. A primeira vitória de Andy veio em 1996. A primeira na elite apareceu dois anos depois, em Huntington Beach.

A glória começaria a cruzar seu caminho em 2002, quando embolsou quatro etapas do Circuito, incluindo a última, em casa, para faturar o primeiro título mundial. Naquele ano, Slater ainda ensaiava um retorno às ondas após três anos de pausa. Ficou com um modesto nono lugar. Coube a Irons deixar sete australianos para trás, incluindo gente do calibre de Mick Fanning, Joel Parkinson e Taj Burrow.

Em 2003, a consolidação do ídolo. Além de conhecer Lyndie, o havaiano defendeu seu título de forma brilhante. Slater estava inteiro de novo, mas tombou numa disputa memorável em Pipeline. Começava a se consolidar ali um domínio na primeira metade da década. Domínio esse que se ampliou com o tricampeonato em 2004. Desta vez, a festa foi na etapa de Imbituba, em Santa Catarina.

Kelly retomou sua dinastia nos dois anos seguintes, mas ainda teve o título carimbado por Irons em 2006, de novo em Pipeline. O havaiano já tinha cumprido sua missão.

Em 2008, ele abandonou as últimas etapas e anunciou que pararia por um ano, alegando ter perdido a paixão pelo surfe. Junto com isso veio a aposentadoria do irmão Bruce, que Andy dizia ser melhor do que ele. A temporada 2009 viu um surfista esporádico, participando apenas como convidado nas etapas do Taiti e – claro – do Havaí.

O retorno em 2010 viu o radical adotar um estilo mais “família”, com Lyndie já grávida. A última vitória da carreira veio em Teahupoo, batendo na final não Slater, mas o também americano CJ Hobgood. Slater, por sinal, faturou três etapas e está muito perto de conquistar seu decacampeonato - resta agora saber qual será a decisão da ASP sobre o decorrer da competição.

Ainda que o mito americano vença, sua biografia não pode ignorar Irons e os duelos memoráveis que ficam registrados na história do surfe. Em nove baterias na elite, o havaiano levou a melhor em seis. Ou seja: das 20 etapas que Andy venceu, seis foram em cima do melhor de todos os tempos.

Fora das praias, o duelo prosseguia, no melhor estilo “mocinho x bandido”. A rivalidade é apontada como um dos motivos que motivaram Slater a retornar ao circuito. E as disputas no mar não impediram que – ao menos nos últimos anos – os adversários se dessem bem. Até Lyndie foi clicada algumas vezes conversando com Kalani, namorada de Kelly.

- Não posso ficar chateado se o cara para quem eu perdi ganhou o campeonato. Eu mataria os sonhos de vocês se dissesse que eu e Kelly somos realmente amigos? – perguntou Irons em 2008.

Ao sair de cena, ele deixa na memória dos amantes do surfe o último duelo. Neste ano, os dois se cruzaram após quatro anos sem encontros na água. Foi justamente em Teahupoo, na etapa do Taiti. Slater venceu na primeira fase, e Irons deu o troco nas semifinais para, em seguida, conquistar seu último título. Belo desfecho de um surfista grande demais para caber na onda.

Comentários

  1. felipe leite neres17 novembro, 2010 11:21

    grande surfista, o cara que motivou a volta de kelly slater para o tour mundial ASP e ganhou 3 vezes campeonato mundial!!!!!

    parabens pelo artigo Bruno

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