TEMPESTADE PERFEITA NA FIFA?
Por Anderson Gurgel
Sede da Fifa, na Suíça |
Apesar de ser o início de uma investigação e ainda sem certeza de culpas
e de eventuais punições, a notícia do dia é um fato que dá esperança. Sim, é
algo que pode ser visto como positivo, pois mexe com a estrutura atual do
futebol mundial e mostra que a modelo precisa de mudanças urgentes.
A diferença do fato atual em relação aos sucessivos escândalos que já
vinham sendo feitos ao Sistema Fifa e parceiros é que, desta vez, as denúncias
levaram a um processo nos EUA com a aplicação das atuais e bem rigorosas leis
anticorrupção de lá. Isso realmente é um fato novo e pode gerar desdobramentos
surpreendentes nos próximos dias.
É importante lembrar a pressão sobre a Fifa vem num crescendo há bastante
tempo. A entidade saiu do Brasil com a imagem extremamente arranhada, pois a
gestão da Copa de 2014 só foi benéfica para ela. O Brasil ficou com a conta
para pagar. Os protestos não perdoaram a entidade.
Em nível internacional, a péssima imagem acentuou-se com a definição de
Rússia e Catar para as Copas de 2018 e 2022. Há inúmeras suspeitas de
irregularidades nessas escolhas. Pode ser que isso entre novamente no foco das
discussões.
Sobre o Catar, ainda, a Fifa vem sofrendo grande pressão dos seus
parceiros e patrocinadores por causa das denúncias envolvendo trabalho escravo
e mortes no processo de preparação das arenas. Visa, Coca-Cola e Adidas estão
seriamente preocupadas e já vinham pressionando a entidade. As marcas sabem
que, no mundo de hoje, há corresponsabilidade e que os escândalos
"colam" nas marcas-parceiras também.
O cenário de "tempestade perfeita" é completado com o fato de
que, em alguns dias, haverá eleições na Fifa. Ainda que os dirigentes neguem,
tudo o que está acontecendo levaram o modelo da entidade máxima do futebol
"ao chão". A ver como e se a entidade conseguirá sair desse
escândalo. Acho que dificilmente isso acontecerá sem perdas, ao menos do ponto
de vista, da imagem pública.
*Anderson Gurgel é professor de
Comunicação Esportiva da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor do livro
"Futebol S/A - A Economia em Campo (Ed. Saraiva, 2006)
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