EM JOGO DRAMÁTICO, SANTOS EMPATA COM CERRO E DECIDE LIBERTADORES NO PACAEMBU
A final chegou! Os Meninos da Vila, comandados por Neymar, estão na decisão da Taça Libertadores. A vaga veio depois de muito sofrimento, num empate em 3 a 3 com o Cerro Porteño-PAR, nesta quarta-feira, em Assunção. Mas, enfim, é a chance de conquistar a competição mais cobiçada do continente, oito anos depois. Em 2003, o time de Diego e Robinho perdeu o título para o Boca Juniors. Agora, Neymar e seus "parças" tentarão levar o Alvinegro ao tão esperado tricampeonato continental - os dois primeiros foram em 1962 e 63, com Pelé em campo.
Mas para que a vaga viesse foi necessário sofrer muito. O anfitrião, apoiado por 25 mil torcedores incansáveis que lotaram o estádio General Pablo Rojas, fez trapalhadas e deu chances ao Peixe. O time da Vila Belmiro terminou o primeiro tempo vencendo por 3 a 1, uma vantagem que parecia bem confortável. Ilusão. A reação paraguaia na etapa final foi exemplar, mas insuficiente. O Alvinegro impediu a virada com sorte, competência, talento de Neymar e muita qualidade do goleiro Rafael. O Cerro teve seu esforço reconhecido: foi aplaudido ao fim da partida. O empate foi suficiente porque o Santos havia vencido o jogo de ida, no Pacaembu, quarta-feira retrasada, por 1 a 0.
O adversário santista será o Peñarol, que num jogo emocionante na Argentina perdeu por 2 a 1, mas se classificou pelo gol marcado fora de casa. O Peixe tem o direto de jogar a segunda partida em casa porque teve melhor campanha que o time uruguaio na fase de grupos. As finais estão previstas para os dias 15 e 22 de junho.
Para a decisão, a Conmebol exige um estádio com capacidade de, no mínimo, 40 mil lugares, o que descarta a Vila Belmiro. O duelo decisivo pode ser no Pacaembu, onde o Peixe já jogou agumas vezes nesta temporada, ou no Morumbi, onde o time decidiu a Libertadores de 2003.
Talvez nem o mais otimista dos santistas pudesse prever um primeiro tempo como o desta quarta-feira. Um gol rápido, que esmoreceu o Cerro Porteño. Um gol de Zé Eduardo. Ele mesmo, criticado nas últimas partidas, completou cruzamento de Elano e acabou com um jejum de 14 jogos: dez pela Taça Libertadores e quatro pelo Paulista.
A torcida azulgrana, que fez uma linda festa antes do início da partida, murchou. O otimismo paraguaio foi por terra logo aos dois minutos. Sorte do Santos. Superior tecnicamente, o time alvinegro passou a ter campo para jogar. O Cerro se abriu. Havia um enorme espaço entre os meias e a zaga da equipe de Assunção. Por ali, Danilo e Arouca circulavam livres.
Neymar, até então, não havia acertado lances. Trocava de posições com Zé Eduardo, mas ainda não havia conseguido uma jogada mais incisiva. O Cerro foi para o abafa. O técnico Leonardo Astrada mexeu com apenas dez minutos. Sacou Torres para a entrada do meia argentino Iturbe, lançando o time à frente.
De repente, um chutão. Edu Dracena mandou a bola para cima para afastar o perigo. Não tinha a menor intenção de armar alguma coisa. Só que ela pingou à frente de Neymar. Antes do atacante alcançar, Pedro Benítez tocou de cabeça para o goleiro Barreto. Era só encaixar, mas o camisa 1, numa espanada bisonha, mandou a bola para dentro da sua própria meta. 2 a 0. Agora, o Cerro precisaria de quatro gols. E o goleiro foi anotado na súmula como o autor do gol.
A situação do Peixe era confortável. A do Cerro, desesperadora. Mas um sopro de esperança percorreu as lotadas arquibancadas da Olla Azulgrana, como o estádio do Cerro é conhecido, quando Iturbe cobrou escanteio para César Benítez escorar de cabeça, sozinho. A zaga santista ficou olhando.
Astrada, então, foi para o tudo ou nada. Tirou o volante Burgos e colocou o atacante Lucero. Uma mudança suicida. Abriu-se um imenso buraco atrás da linha média paraguaia. Foi nesse espaço vazio que Arouca arrancou livre para armar a jogada do terceiro gol, marcado por Neymar. Nesse momento, a vaga santista na final da Libertadores era questão de tempo. De 45 minutos e mais os acréscimos.
Era natural que o Cerro Porteño voltasse para o segundo tempo em cima do Santos. O que não foi normal foi a forma como o Peixe aceitou a pressão. Abusando dos chutões, o time da Vila Belmiro não conseguia acertar dois passes seguidos para sair de trás. O domínio paraguaio logo resultaria em gol, marcado por Lucero.
O jogo da equipe paraguaia se concentrava do lado direito, em cima de Alex Sandro. Havia muito espaço para o contra-ataque santista. O que não havia era qualidade no passe nas saídas de bola. Neymar e Zé Eduardo, longe demais um do outro, não se encontravam em campo. Assim, era Cerro em cima. Cruzamentos na área santista. Um atrás do outro. E o Peixe se segurando.
Para tentar aumentar o poder de marcação de sua equipe e roubar alguma bola no meio, Muricy Ramalho tirou Elano, que já não conseguia armar nada, e colocou Possebon. Em seguida, substituiu Zé Eduardo por Maikon Leite. A estratégia era clara: roubar a bola e explorar os dois velozes jogadores de frente.
A mudança melhorou a marcação santista, mas acabou com o poder de armação de jogadas. Muricy acreditava que Arouca pudesse sair de trás com a bola dominada, como no lance do terceiro gol. O volante, porém, foi mais um a ficar lá atrás, rebatendo bolas. Neymar e Maikon, sozinhos na frente, só viam a bola de longe. Virou um treino de ataque contra a defesa. Faltava ao Cerro, porém, mais qualidade nas conclusões. Quando o time paraguaio conseguiu invadir a área santista, Rafael apareceu. Aos 33, num lance crucial, ele salvou um chute de Cáceres, dividindo a jogada com o adversário usando a mão esquerda. Jogada corajosa.
A pressão era tanta que a defesa alvinegra sucumbiu aos 36. Como entrar na área adversária estava difícil, Fabbro recebeu na meia esquerda, livrou-se de dois marcadores e mandou a bomba certeira de fora. Um golaço! A vantagem do Peixe ainda era enorme, mas foi um baque. Desde que Muricy Ramalho assumiu o comando da equipe, há 15 partidas, o time ainda não havia sofrido sequer dois gols num jogo só.
Virou drama. Jogo de Libertadores. No momento em que o Santos tentava o desafogo, cavando uma falta na entrada da área, Muricy caiu no chão após ser atingido na cabeça por um objeto. Ele chegou a se ajoelhar por causa da dor e precisou de gelo no local. Faltavam dois gols para o Cerro. Cabia ao Peixe segurar os paraguaios. Para aumentar ainda mais a carga dramática do jogo, Neymar ainda acertou a trave na cobrança dessa falta.
Mas o Cerro devolveu carimbando o travessão aos 48, com Cáceres, pouco depois de Neymar finalizar nas mãos de Barreto. O jogo foi quente até os últimos segundos. Edu Dracena ainda foi expulso. E Rafael, no minuto final, segurou o último chute de Fabbro. Ufa! Apito final e a vaga garantida.
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