ENTREVISTA DE ROGÉRIO CENI A MARCELO BARRETO

Olá, pessoal! Tudo bem? Esta reportagem que vou postar agora é, na verdade, uma cópia de uma entrevista feita pelo jornalista Marcelo Barreto, do canal SporTV , que entrevistou o goleiro Rogério Ceni há alguns meses atrás. Eu li toda a matéria e achei que o jornalista conseguiu tirar realmente a essência do que ele queria, com uma grande personalidade que é o goleiro artilheiro. VALE A PENA LER!

"No próximo 2 de abril, completam-se 20 anos de minha chegada ao Rio de Janeiro. Era o primeiro dia de meus três meses de estágio em O Globo. Cheguei 40 minutos atrasado para uma palestra e, pela primeira de muitas vezes, achei que minha carreira não passaria dali. Mas foi passando e já lá se vão duas décadas (não guardei a data exata de minha estreia no primeiro emprego como jornalista, na Prefeitura Municipal de João Monlevade). Como, minha senhora? O que a senhora tem a ver com isso? Nada, mas o blog é meu e nele eu escrevo o que quiser – posso até citar Stanislaw Ponte Preta e declarar meu amor a minha mulher sem avisar. Mas então. Estava eu pela aí, comendo minhas goiabinhas – ou, corrigindo o rumo, em São Paulo, entrevistando o Rogério Ceni para a edição desta segunda-feira do SporTV News. E foi então que pensei em escrever este texto.

A idade de quem gosta de futebol se conta de uma maneira peculiar, pelo menos até certa altura da vida: durante a infância e parte da adolescência, somos mais jovens do que os jogadores que vemos no estádio e na televisão, portanto ainda existe o sonho – ou a ilusão – de que um dia poderemos ser como eles; aí chega o dia em que percebemos que já somos da mesma idade, e que o máximo que podemos dizer para nos convencer de que o sonho não acabou é que poderíamos estar no lugar deles, mas a vida nos levou por outros caminhos; e finalmente ficamos mais velhos do que eles, mais velhos até do que os que são chamados de velhos, em fim de carreira. Aí sim, o sonho acabou. Aos 43 anos, já passei dessa última fase. O momento é de avaliar o que fiz com os anos em que não fui jogador de futebol.

Essa ficha caiu – de novo – quando percebi que minha carreira e a de Rogério Ceni começaram quase ao mesmo tempo. Rogério foi contratado pelo São Paulo em 1990, ano de meu primeiro emprego. Em 1992, quando eu já tinha sido contratado para a editoria de esportes de O Globo, ele ficou na reserva de jogos do Campeonato Paulista pela primeira vez. De lá para cá, tornou-se um dos maiores goleiros do Brasil, foi tricampeão paulista e brasileiro, bicampeão da Libertadores e campeão mundial de clubes, só para citar os principais campeonatos. Ainda esteve em duas Copas do Mundo e – o que provavelmente o fará ser lembrado acima de tudo - chegou neste domingo à marca de 96 gols (a Fifa reconhece 94, mas essa discussão de gol oficial é uma chatice: para mim, entrou, o juiz apitou, valeu). É o maior artilheiro tricolor em atividade – um goleiro!

Se resolvesse encerrar a carreira hoje, Rogério Mücke Ceni, nascido em Pato Branco (Paraná) no dia 22 de janeiro de 1973, já teria uma das maiores carreiras da história do futebol brasileiro. Mas o que mais me impressionou no agradável papo de sábado à tarde, no CT da Barra Funda, foi que Rogério não quer parar. Depois de passar a manhã treinando num campo encharcado, de ser mais uma vez o último a sair e de passar uns bons minutos mergulhado até a cintura numa banheira cheia de gelo, ele passou toda a entrevista sem que eu conseguisse lhe arrancar uma reclamação, um muxoxo sequer, um leve indício de que esteja cansado da rotina de jogador de futebol. Queixou-se da bola do Paulistão, dos campos pesados, do excesso de jogos – de tudo o que considera prejudicial a seu trabalho. Mas do trabalho em si, nunca.

Em sua vigésima temporada entre os profissionais do São Paulo, Rogério Ceni não está cansado. Até brinca com a idade, ri dos jogadores das divisões de base que o chamam de senhor e diz que é por causa de seus quase 38 anos que tem de encarar a tal banheira de gelo – a inimiga da vez é uma pubalgia. Eu, cinco anos mais velho, pensava no meu próprio púbis, que tem atrapalhado as peladas de sexta-feira. Não preciso dele para trabalhar, mas sei o quanto dói. Rogério não pensa nessa dor, nem nas outras de seu ofício. Só vi preocupação no rosto dele justamente quando o assunto foi o encerramento da carreira, que ele programa para o fim de 2012. “Deve ser muito triste parar de jogar futebol”, disse, com o olhar tão treinado para entrevistas dessa vez perdido, não voltado para mim nem para a câmera, mas para um futuro que o preocupa por estar tão próximo.

Como, minha senhora? Não, eu não comparei a minha carreira com a do Rogério Ceni depois da entrevista. Nem acho que ninguém deva fazê-lo. De um cara como esse, o melhor a fazer é aprender. Por exemplo: quando perguntei sobre o hábito de ser o último a sair de campo, Rogério me contou que aprendeu com Telê Santana a chegar mais cedo para os treinos. Assim, tinha meia hora a mais para se preparar antes de os outros chegarem – e foi durante essas meias horas que começou a treinar (adivinhe!) cobranças de faltas. Nessa hora, meu pensamento voou para o dia 2 de abril de 1991, aquele em que cheguei 40 minutos atrasado para meu primeiro dia de estágio num grande jornal. Não posso mais corrigir esse erro, nem outros que cometi. Mas posso ser melhor hoje, posso ser melhor amanhã.

Posso, por exemplo, aprender com Rogério Ceni a não querer parar. A encontrar motivação para enfrentar o Mogi Mirim, num campo pesado do interior de São Paulo, para começar o vigésimo ano de participações no Paulistão – e fazer gol. A chegar meia hora mais cedo, sair depois de todo mundo e se enfiar até a cintura numa banheira cheia de gelo. A falar com amor do clube e da profissão, em vez de reclamar da rotina, do sacrifício, das críticas, da distância da família.

Simone, minha maior incentivadora, vive dizendo que nunca é tarde para aprender. Com Rogério Ceni, num sábado à tarde no CT da Barra Funda, reaprendi a continuar."


Entrevista de Rogério Ceni a Marcelo Barreto, jornalista do canal SporTV

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